A
disciplina “Preparação para o palco e performance” foi muito proveitosa
para o meu processo de tomada de
consciência do meu fazer musical, bem como propiciou contanto com o tema da Performance
Musical, através da discussão em sala de aula, bem como a leitura de textos.
Quanto à tomada de consciência,
refleti sobre o meu fazer musical, examinando, dentre os objetivos possíveis
dentro do amplo tema da performance, quais aqueles de maior interesse para mim,
daí concluindo que os temas de minha predileção são composição autoral e
arranjo, performance musical voltada para a prática de conjunto, bem como o
improviso em música modal, com ênfase na dramatização, isto é, a vivência
dramática e expressiva dos conteúdos
musicais. Somente por este
insight, o curso já teria valido a pena para mim, mas outros objetos também
foram significativos, por ex., o contato com colegas estudantes de música, os
quais trouxeram suas experiências pessoais, seus anseios, medos, seus
objetivos, material, este, muito rico, de molde a, através do testemunho do
outro, podermos entrar em contato com a
amplo horizonte do tema “Performance Musical”.
Quanto ao tema, percebi que a
maioria dos colegas tem como objetivo a performance musical voltado a execução
do instrumento em Orquestra. Observo que um sintoma que me ocorreu muito
presente foi a solidão, o tocar solitário. Acredito que os fatores que conduzem
a isso são: 1) a cultura individualista (cada um por si), resultante de um
modelo competitivo, requerido pela especialização forjada pelo capitalismo
consumista; 2) a alta prioridade que se dá à execução (o tocar) do instrumento,
em detrimento de outros conteúdos que poderiam trazer muitos subsídios à
performance, tais, como, por exemplo, estudos sobre interpretação, estética,
etc; 3) o pouco investimento dos alunos no trabalho/vivência corporal, trabalho
este que pode trazer muitos benefícios quanto à auto-aceitação e a convivência
com o eu-integral, conexão do corpo-afeto-emoção-razão-espírito.
Do ponto de vista da performance,
minhas experiências tem mostrado que o improviso musical é uma ferramenta poderosa para a liberação da expressão e o
ato de interpretar nada mais é que o “conectar o discurso musical com a via dos
sentimentos” e, a partir de então, o discurso musical passa a fazer sentido.
Descreio de uma performance baseada
apenas no princípio mecânico e motor, na repetição, uma vez que a repetição
será sempre uma sombra de um “outro idealizado como perfeito”. Se almejamos uma
performance condigna temos que trazer o discurso musical para dentro de nós, de
maneira que faça sentido, que possamos vivenciá-lo plenamente, em conexão com o
nosso desejo.
Dos textos lidos, é recorrente a
crítica a uma performance subalterna à composição autoral, como se ao executor
só coubesse repetir o quão mais fiel a concepção original da obra, tal como se
lê do texto citado de José Jorge de Carvalho quando menciona a “esterilidade
interpretativa” (pag. 10), ou, chamando atenção para uma perspectiva oposta à
da mera execução servil, cita o teatro como ritual de construir o sentido
através da expressão (pag. 16), bem como menciona literalmente que o teatro não
abre mão do hic et nunc (pag. 17), ou
seja, da prerrogativa de construir o sentido, a partir da recepção e elaboração
dos conteúdos.
No
mesmo sentido do magistério de Carvalho, Nicholas Cook traz importantes
subsídios, por exemplo, quando (pag. 11) cita o Jazz como uma das práticas
musicais mais abertamente interativas; quando (pag. 12) pensa na notação como script e não como texto (isto é, como texto fechado/concreto – até
porque a partitura não dá ao interprete todos os elementos, mais apenas alguns
indicadores da vontade do autor, cabendo ao intérprete suprir através do seu
bom senso e expressividade muitas das lacunas existentes), bem como (pag.,
13) condena a redução do poema ao texto.
Esta
última advertência “condenar a redução do poema ao texto” é muito
significativa, pois se a poesia nasce de um ato de criação e inspiração, cuja
significação confunde-se com o desejo, realmente, constitui violência querer
reduzir o poema a um produto, a um texto fechado. Ainda, Cook, cita no campo da
Etnomusicologia, afirma que do ponto de vista da tradição oral, cada
performance é original (pag. 13), daí, por ex., o caráter ritual e intimista da
música indígena, na qual cada performance é personalíssima.
Em
conclusão, o estudo e reflexão do tema “Performance Musical” foi muito
significativo para mim, vez que permitiu entrar em contato com textos muito
ricos de conteúdos, tendo por consequência a abertura do campo de minha análise
e crítica. Outrossim, a troca de experiências em sala de aula foi fator de crescimento
e reflexão. Por fim, referente à minha experiência musical, bem como o anseio
de concreção dos projetos pessoais, o cursar a disciplina foi de grande valia.
BIBLIOGRAFIA
CARVALHO,
José Jorge de. Transformanções da
sensibilidade musical contemporânea. In: Série Antropologia nº 266. Brasília,
1999.
CERQUEIRA,
Daniel Lemos. Teoria da Performance Musical. Musifal: Maranhão. s.d.
COOK,
Nicholas. Entre o processo e o produto: música e/enquanto performance. Per
Musi. Belo Horizonte. nº 14, 2006, p. 05-22.
MOLINA
Junior, Sidney José. Performance musical como desleitura. In: ANPPOM Quinto
Congresso/2005.
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