sábado, 13 de setembro de 2014

Reflexões sobre a performance musical



A disciplina “Preparação para o palco e performance” foi muito proveitosa para  o meu processo de tomada de consciência do meu fazer musical, bem como propiciou contanto com o tema da Performance Musical, através da discussão em sala de aula, bem como a leitura de textos.
            Quanto à tomada de consciência, refleti sobre o meu fazer musical, examinando, dentre os objetivos possíveis dentro do amplo tema da performance, quais aqueles de maior interesse para mim, daí concluindo que os temas de minha predileção são composição autoral e arranjo, performance musical voltada para a prática de conjunto, bem como o improviso em música modal, com ênfase na dramatização, isto é, a vivência dramática e expressiva dos  conteúdos musicais.         Somente por este insight, o curso já teria valido a pena para mim, mas outros objetos também foram significativos, por ex., o contato com colegas estudantes de música, os quais trouxeram suas experiências pessoais, seus anseios, medos, seus objetivos, material, este, muito rico, de molde a, através do testemunho do outro, podermos entrar em contato com a  amplo horizonte do tema “Performance Musical”.
            Quanto ao tema, percebi que a maioria dos colegas tem como objetivo a performance musical voltado a execução do instrumento em Orquestra. Observo que um sintoma que me ocorreu muito presente foi a solidão, o tocar solitário. Acredito que os fatores que conduzem a isso são: 1) a cultura individualista (cada um por si), resultante de um modelo competitivo, requerido pela especialização forjada pelo capitalismo consumista; 2) a alta prioridade que se dá à execução (o tocar) do instrumento, em detrimento de outros conteúdos que poderiam trazer muitos subsídios à performance, tais, como, por exemplo, estudos sobre interpretação, estética, etc; 3) o pouco investimento dos alunos no trabalho/vivência corporal, trabalho este que pode trazer muitos benefícios quanto à auto-aceitação e a convivência com o eu-integral, conexão do corpo-afeto-emoção-razão-espírito.
            Do ponto de vista da performance, minhas experiências tem mostrado que o improviso musical é uma ferramenta  poderosa para a liberação da expressão e o ato de interpretar nada mais é que o “conectar o discurso musical com a via dos sentimentos” e, a partir de então, o discurso musical passa a fazer sentido.
            Descreio de uma performance baseada apenas no princípio mecânico e motor, na repetição, uma vez que a repetição será sempre uma sombra de um “outro idealizado como perfeito”. Se almejamos uma performance condigna temos que trazer o discurso musical para dentro de nós, de maneira que faça sentido, que possamos vivenciá-lo plenamente, em conexão com o nosso desejo.
            Dos textos lidos, é recorrente a crítica a uma performance subalterna à composição autoral, como se ao executor só coubesse repetir o quão mais fiel a concepção original da obra, tal como se lê do texto citado de José Jorge de Carvalho quando menciona a “esterilidade interpretativa” (pag. 10), ou, chamando atenção para uma perspectiva oposta à da mera execução servil, cita o teatro como ritual de construir o sentido através da expressão (pag. 16), bem como menciona literalmente que o teatro não abre mão do hic et nunc (pag. 17), ou seja, da prerrogativa de construir o sentido, a partir da recepção e elaboração dos conteúdos.
No mesmo sentido do magistério de Carvalho, Nicholas Cook traz importantes subsídios, por exemplo, quando (pag. 11) cita o Jazz como uma das práticas musicais mais abertamente interativas; quando (pag. 12) pensa na notação como script e não como texto (isto é, como texto fechado/concreto – até porque a partitura não dá ao interprete todos os elementos, mais apenas alguns indicadores da vontade do autor, cabendo ao intérprete suprir através do seu bom senso e expressividade muitas das lacunas existentes), bem como (pag., 13) condena a redução do poema ao texto.
Esta última advertência “condenar a redução do poema ao texto” é muito significativa, pois se a poesia nasce de um ato de criação e inspiração, cuja significação confunde-se com o desejo, realmente, constitui violência querer reduzir o poema a um produto, a um texto fechado. Ainda, Cook, cita no campo da Etnomusicologia, afirma que do ponto de vista da tradição oral, cada performance é original (pag. 13), daí, por ex., o caráter ritual e intimista da música indígena, na qual cada performance é personalíssima.
Em conclusão, o estudo e reflexão do tema “Performance Musical” foi muito significativo para mim, vez que permitiu entrar em contato com textos muito ricos de conteúdos, tendo por consequência a abertura do campo de minha análise e crítica. Outrossim, a troca de experiências em sala de aula foi fator de crescimento e reflexão. Por fim, referente à minha experiência musical, bem como o anseio de concreção dos projetos pessoais, o cursar a disciplina foi de grande valia.
BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, José Jorge de. Transformanções  da sensibilidade musical contemporânea. In: Série Antropologia nº 266. Brasília, 1999.
CERQUEIRA, Daniel Lemos. Teoria da Performance Musical. Musifal: Maranhão. s.d.
COOK, Nicholas. Entre o processo e o produto: música e/enquanto performance. Per Musi. Belo Horizonte. nº 14, 2006, p. 05-22.
MOLINA Junior, Sidney José. Performance musical como desleitura. In: ANPPOM Quinto Congresso/2005.

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