sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A República natimorta - A triste página de Canudos


O
O advento do regime republicano no Brasil, a par de sua sedução laica e racional, apenas fez perpetuar a violência para com o povo brasileiro, pois que a ordem republicana foi socada goela a baixo dos Brasileiros. Lembre-se que por ocasião da instauração do Regime Republicano o Brasil era um imenso feudo, e, na maioria dos rincões, tal como o exemplo paradigmático dos Sertões nordestinos, vigia a lei do mais forte e a ausência de qualquer ordem estabelecida ou educação formalmente instituída ensejava condições para a prática do radicalismo religioso, de forte cunho moral, à míngua de quaisquer outras perspectivas de sociabilidade. Lembre-se que o Poder burocrático se restringia às capitais litorâneas e o sertão, no regime monárquico, esteve entregue a sua própria sorte.
Ora, a imposição do Regime Republicano foi muito traumática para este povo que tinha 500 anos de Realeza, e grande parte do nosso povo vivia entregue a sua sorte, ou sujeito à lei do mais forte, ou sujeito à pedagogia de Religiosos leigos, em lugares onde a Igreja ainda nem tinha chegado. O movimento de Antônio Conselheiro em Canudos bem revela a atrocidade que o advento do regime Republicano ensejou, totalmente insensível aos valores do povo humilde, povo, este, que com razão não aceitou a mudança do sistema canônico para o Republicano. Como exigir racionalidade de um povo, que nunca teve educação formal, nem acesso à cidadania, e que se uniu em uma comunidade, que era única forma de fazer frente ao poder dos mais fortes (Poder dos Coronéis) e a Seca inclemente no Sertão Nordestino?...! Razão que exigisse do povo de Conselheiro aquilo que evidentemente não poderia dar (Aceitação da República) evidentemente razão não é, mas desrazão!
Pergunta-se: este povo poderia aceitar o individualismo, o regime de propriedade privada, a substituição de direito canônico pelo direito civil, a obrigatoriedade de saber ler e escrever para se ter acesso aos direitos, num Sertão onde não existia Ordem Estabelecida e sequer podia se viver apenas de subsistência, dada às intempéries da seca?...! Bem ou mal, o credo religioso que professavam era o último bastião de dignidade que lhes restava. Não é justo, nem humano, tirar de alguém algo que considera muito precioso, ainda que aos olhos desavisados o que se tira pareça irrelevante.
Que a fé que professavam tinha muito de preconceito (por ex, a figura do pecado, do queimar no inferno, da condenação da concupiscência carnal,...) é fato, mas nada havia que lhes ser cobrado, pois na contabilidade da história o povo de Conselheiro é credor do descaso dos governos que se sucedem, da falta da completa ausência de condições de cidadania digna.
Queiram erradicar o preconceito, as falsas crenças, os mitos, dêem condições condignas de existência e educação, erradiquem a pobreza, levem cidadania a todos os rincões do Brasil. Mas cobrar razão, cobrar do povo coerência, constitui ato arbitrário, verticalizado, impositivo, a serviço dos interesses da elite e da manutenção do status quo. Elite, esta, que somente é culta na fachada, uma vez que totalmente insensível aos reclamos do povo, totalmente insensível às verdades causas da violência, da criminalidade, do trafico de drogas, causas, estas, que remontam esta triste história dos descasos que foram perpetrados para com o povo, e que é mais que natural que tais descasos dêem frutos (o povo devolve em violência a violência que lhes é impingida) e continuem dando enquanto se manter o status quo, do elitismo econômico e da falta de distribuição racional das riquezas e das ações de cidadania (educação, saúde, assistência social, esporte, lazer, etc). 
A educação, nos moldes liberais, é aparentemente bem intencionada, mas num Brasil como o nosso, no qual faltam condições básicas de sobrevivência e acesso à cidadania, a exigência de educação formal se torna um acinte. Por ex, que direito temos em condenar alguém ou lhe vetar acesso a um emprego por falar errado?
No nosso cenário de completo descaso com a cidadania a exigência de educação torna-se, no mais das vezes, uma forma de imposição elitista, com o fito somente de segregar a maioria em benefício dos interesses de uma minoria.
Educação não se cobra, se dá!


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