segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Notas de um aprendiz do feitiçeiro Rubem Alves


Discorrer sobre Rubem Alves, poderia se pensar que é uma tarefa muito difícil, dado o seu ecletismo de singrar com igual maestria por diversas áreas, de teologia à filosofia da ciência, de literatura à educação. Porém, tal ponto de vista não se sustenta, pois entrar em contato com a obra de Rubem Alves, ainda que se leia pequenas frases ou trechos, significa antes de tudo um deleite, uma ato de prazer, um degustar de frases inspiradas, um contato com alguém de rara sensibilidade, que nos conclama à humanização das relações. Digo, humanização, não porque Rubem Alves queira tecer conceitos profundos e graves sobre as causas da miséria humana, ou entrar em considerações estilizadas sobre o fim último da existência...
Como dizia acima, Rubem Alves nos conclama..., digo, nos “inspirara” à humanização através do seu próprio exemplo, onde se lê o “prazer”, o “amor” de seus aforismos, curtos pelas poucas palavras, mas tendentes ao infinito, à utopia, a absoluta credulidade da fé pelo influxo do corpo amoroso presente, de molde que o quesito “humanização” nada mais é que a catalização em cada um de nós deste processo maravilhoso de “se permitir ser” e se embalar na brincadeira de viver prazerosamente e colher frutos sem o perceber.
Frutos dados pela vida, não são frutos cobrados. Qualquer conceito que se queira exprimir sobre a “Doutrina da Graça” não será tão evidente quanto à delícia de saborear um fruto dado. A isto somos muito gratos pelo fruto dado por Rubem Alves, e temos absoluta convicção e fé de que Rubem Alves tenha encorajado (na acepção do termo por ele utilizado) muitas aves a alçar seu destino pelo simples ato de voar. Refastele-se com a leitura do texto inspiradíssimo de Rubem Alves, intitulado “Gaiolas e Asas”[1].
Toda a vasta obra de Rubem Alves é marcada pelo cunho pessoal que imprime, fruto de uma opção política muito amadurecida quanto à valorização do ser humano e da concepção de que os homens não devem ser escravos da informação ou dos conteúdos prontos e acabados, mas, ao contrário, os seres humanos produzem saber e ciência concomitante ao se permitir vivenciar e se embebedar com o prazer de simplesmente ser e sentir o corpo presente.
Tal opção política se espraia na concepção de Rubem Alves sobre educação e se pode observar que Rubem Alves tem especial interesse com o tema da “Educação Infantil”, o que se extrai do seu magistério de constantemente chamar atenção para os valores a serem observados na educação infantil.

Rubem Alves crítica a perspectiva de educação com ênfase na transmissão de conhecimento, aliada à conduta passiva e alienante do aluno repetir fórmulas prontas, e se domesticar ao controle alheio, e daí a se anular como indivíduo. Rubem Alves chama atenção para a necessidade de promover o indivíduo, não tendo como bastião principal o conteúdo. O conteúdo deve ser apenas um catalisador das experiências do indivíduo. O interesse, o desejo da pessoa, devem ter precedência sobre o conteúdo. Uma vez dito que a “fé remove montanhas”, a simplicidade disto para a vida e para o desencadear da educação como edificação social se traduz na concepção de que é o desejo que desencadeia as palavras, é o apetite de viver, é a alegria de simplesmente ser. As palavras não são sarcófagos, prisões de sentido, ao contrário, é o desejo que lhes dá vida, é o desejo que faz com que as palavras voem, se volatizem, perfumem, brotem, vivam com a intensidade e clareza do relâmpago. A palavra singra os mais inauditos caminhos, porque é o desejo que lhes dá o sopro da vida. Rubem Alves se refere à criação, pensando no Deus que não se contentou apenas em se copiar a si, mas sonhou com algo agradável, um jardim, um éden, onde pudesse se deleitar e brincar com as crianças.  
Na obra de Rubem Alves a presença do lúdico, é uma constante, através da mescla de conceitos, valores e do eu-poético presente, ganhando o texto, com isto, uma dimensão lírica de agradável fluência, fragor e deleite. Como já disse com outras palavras, o maior legado da Obra de Rubem Alves é o exemplo que dá, pois que o eu-lírico-poético presente é um simples se permitir ser, brincar, dizer de sua existência sem cartas de apresentação e simplesmente com a intensidade de exprimir o desejo. Desejo que, por sê-lo, não é fardo ou peso da verdade, mas desfrute.
Do estilo próprio, através da mescla de teologia, filosofia, ciência e poesia, se extrai também a opção política de Rubem Alves pela ausência de muros entre os saberes, pela catalisação da experiência como momento integral da vivência única e irrepetível do homem.
Rubem Alves instiga o educador a se apaixonar pelo seu ofício, a ver cada um de seus alunos, não como o objeto de um ato de avaliar, mas como ser humano único que necessita de tratamento igualmente único. Rubem Alves chama atenção para o permear do amor como condição básica para o processo de educação. Rubem Alves chama atenção, ainda, para o ato de conhecer como “espanto”, “maravilhamento”. Valoriza a dúvida, a ignorância, o problematizar, pois que são reações naturais em face do contato com a vida e seus diversos contextos.
Para Rubem Alves, o Professor não deve ser um ministrador e controlador da introjeção de conteúdos, mas, ao contrário, deve ser um encorajador e catalisador dos processos. O processo já é inerente ao aluno, pois que é atributo da simples existência do corpo desejante e presente. O saber deve ser construído pelo aluno, na medida do seu desejo e de sua necessidade. Informações esquecidas pelo tempo são como parafusos imprestáveis. O saber deve estar vivo e presente no querer das pessoas. Saber, que é dialético, na medida que não se reduz à uma linearidade cumulativa, mas, ao contrário, se constrói, destrói, se cria, se reinventa, nasce, morre, brota, respira conforme o caminho e a circunstância da caminhada.


[1] Acesso em 07/05/11, através do sítio:  http://petersond.wordpress.com/2009/02/27/rubem-alves-e-a-educacao-brasileira/

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