por Marcelo Othon Pereira
Os
poderes constituídos, com contribuição capital da mídia, têm, por seus atos,
instaurado um verdadeiro caos no Brasil.
Poder-se-ia
crer que a cisão é decorrência natural da última contabilização nas urnas dos
votos para Presidente, onde ambos os candidatos, Aécio e Dilma, obtiveram
expressiva votação, o que delinearia uma sociedade nitidamente polarizada no
tocante à opção política.
Penso
ser bastante ingênuo assim considerar, pois a cisão social que deparamos nos
tempos atuais não é fruto de mera divergência de opção política e ideológica,
mas, ao contrário, decorreu de comportamentos induzidos mediante uma sucessão
de fatos e acontecimentos no cenário político e midiático.
É
bem certo que a divergência de opção firmada nas últimas urnas presidenciais foi
utilizada habilmente para mobilizar aecistas em torno de um movimento de
deposição do poder instituído, quando o movimento verde e amarelo saiu às ruas
protestando contra Lula e Dilma. As maquinações midiáticas, sob véu oculto de
forças políticas e econômicas, fizeram renascer nos contrários ao PT e aos
movimentos de esquerda o desejo de suplantar a derrota sofrida nas urnas a
pretexto de encontrar e punir culpados e destituí-los do poder ou, de qualquer
modo, responsabiliza-los pela crise econômica.
Daí,
conseguida a queda da Dilma, qualquer atitude dos defensores de Dilma e Lula é
devolvida na mesma moeda pelos opositores, que têm na manga tantos argumentos,
posts e memes para pô-los sob suspeita.
Os
defensores de Dilma, por sua vez, sentem-se traídos ante a convicção de que a
queda de Dilma tem como mote o desejo de tomar o poder ilegitimamente, o desejo
de barrar a lava-jato, o desejo de continuar a roubalheira.
Temos
um cenário social de violência instituída, de acirramento de ânimos, de
revolta. O povo polarizado em facções contrárias, à guisa de defender seus
ideais até às últimas consequências, com certeza, não desencadeou toda esta
trama, mas é o motor para que esta novela continue, e não deixa de ser cúmplice
desta novela, pois que, afinal, cada um de nós é um célula de vontade política
e, por seus atos e escolhas, influi no concerto social.
Em
tal cenário de acirramento de ânimos, de busca atroz de culpados, é muito
grande a sedução de apontar o dedo, demonizar os desafetos, num jogo de bem e
mal, que, às vezes, parece querer chegar ao desfecho, mas a polêmica brota,
renasce, ganha nova força no influxo dos desejos em contenda.
Este
cenário do povo digladiando entre si é bastante desolador. Penso que é uma
condição que qualquer um de nós em sã consciência não desejaria para si. Digo
isto porque a face da verdade, a evidência do bem e do mal, o desvendamento dos
fatos, o encontrar culpados e purgar os inocentes, é tarefa institucional dos
poderes instituídos, judiciário, legislativo e executivo e, digo, ser muito
cômodo a tais poderes que o povo tome pare si esta tarefa. Diram os parasitas
de plantão, aboletados no poder: - deixe que o povo tome para si as
responsabilidades que a nós caberia; - deixe que o povo acredite estar fazenda
justiça; - deixe que se antagonizem. Quanto mais polemizarem e firmarem cavalo
de batalha, melhor. Melhor pois estarão representando uma novela que não vai
dar em nada mesmo... Melhor o povo dividido, pois lutam um com os outros,
mediante uma polêmica que renderá juros por muito tempo, tempo suficiente para
continuarmos nos safando, enganando, levando adiante os esquemas de corrupção.
Melhor o povo dividido, pois povo unido, consciente de seus direitos e
prerrogativas, foca, exige e cobra. Povo dividido, esperneia, degladia, geme,
treme, mas não sabe para onde vai...
Esta
indução maniqueísta de ambos os lados, sob a bandeira de demonizar culpados,
alardeando “Fora Temer”, “Fora Cunha”, “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora Aécio”,
a quem interessa? Quê adianta destruir o desafeto pelo ódio se os fatos
permanecem somente na esfera dos indícios, das suspeitas, da troca de memes e
posts, sem que os poderes constituídos, Polícia, Ministério Público,
judiciário, Comissões legislativas de justiça, tomem para si o dever de apurar
os fatos e realizar a distribuição de justiça?
Penso
que o Estado de Direito e a Democracia sofreram gravíssimo ataque ao deporem
Dilma à míngua de crime de responsabilidade, deporem Dilma forjando crime
inexistente. Ao contrário do que ingenuamente se possa supor, o protesto contra
a usurpação do poder da Dilma não é bandeira dos simpatizantes do PT, da
esquerda e da Dilma, mas um protesto em face da arbítrio de destituir alguém
que foi colocado no poder por força das Urnas sem razão constitucional e legal
que justifique. Qualquer um que seja subtraído do poder em tais condições, seja
da direita ou da esquerda, será gravemente injustiçado e, mais ainda
injustiçado o povo que representa. Ao abrir precedente para que caprichos
permitam deposição do poder, então alguém será retirado do poder porque não
gosto de sua política econômica, porque não gosto de suas ideias, não gosto de
suas preferências sexuais, não gosto de sua raça, etc. Em tal circunstância, a legalidade escorre
pelo ralo. Não há mais garantia, senão arbítrio e veleidade. Todos saem
perdendo e não apenas, como ingenuamente se possa supor, este ou aquele
político destituído, independente de qual sigla partidária ou ideológica seja.
Não
defendo propriamente Dilma ou Lula por acredita-los inocentes, mas por entender
que os fatos que serviram de arrimo ao processo de impeachment não configuram
crime e por entender que o processo nasceu viciado, pois que as tais pedaladas foram
mero pretexto para a tomada de poder e utilizar tal poder em proveito próprio,
em meio à já decantada cultura de disputada egoica dos partidos pelo poder.
Se
me indagarem sobre a idoneidade de Dilma, direi não ter conhecimento de causa,
mas, ao mesmo tempo, perguntarei em contrapartida: - do quê a acusam? Se é disso que a acusam, então apurem com
todas as vírgulas, levantem fatos, indícios, circunstâncias. Busquem a verdade
custe o que custar. Das pedaladas que a
acusaram descobriu-se ser fato um tanto corriqueiro não administração pública e
em momento alguém cogitou-se ou apurou-se que Dilma teve algum benefício
pessoal ou mesmo teve a intenção de locupletar-se desviando bem ou dinheiro público
em seu proveito. Causa enorme
perplexidade que, num cenário de nossa política pública de falcatruas, de
desvio bilionário de verbas, de propinas, de esquemas envolvendo todos os
escalões, o tema central da política e dos acontecimentos brasileiros gire em
torno da tentativa de depor uma Presidenta pelas tais pedaladas que, no português
claro, não passa de uma ação episódica de quitar débitos mediante empréstimo
bancário com promessa futura de saldar a dívida, como acontece com alguém que,
necessitando de pagar os salários dos empregados e não tendo dinheiro no caixa
recorre ao Banco.
Do
que acusam Temer? Lê-se nos memes e mensagens que circulam no Facebook muitas
acusações de propinas, mas, em sã consciência, cabe a nós julgá-lo? Cabe a nós
odiá-lo a ponto de encontrar em nosso âmago a plena convicção de que ele é o
pior dos mortais. Absolutamente não! Temer
é para mim somente alguém que ocupa um poder que não lhe pertence e, segundo
minha suspeita, parece ter muitos motivos para querer ocupar este poder, mas
não tenho condição de julgar quais os motivos e nem, tão pouco, de passar sua
vida a limpo a ponto de tirar uma radiografia de seus atos. Não cabe a mim ser
inquisitor. Tenho direito, sim, a exigir que o Estado apure todo e qualquer
crime onde haja indícios e provas de materialidade, com absoluta transparência,
deve julgar qualquer político, independente da sigla partidária e de ser amigo
de fulano ou beltrano.
Como disse, não cabe ao povo ser
inquisitor e julgador de ninguém. Somos espectadores apenas dos fatos que nos
trazem através da mídia e a mídia deve atuar com imparcialidade, utilizar seu
poder de comunicar e adentrar em cada lar brasileiro com ética e
responsabilidade social. O que temos visto na telinha Global é o show de
horrores, traduzindo completa irresponsabilidade social e jornalismo a serviço
de interesses menores, parciais, sem compromisso algum com a erradicação da
corrupção e com a realização do Estado Democrático de Direito, veiculando a
Globo, nos últimos tempos, a espetacularização da perseguição seletiva à Dilma,
Lula e PT, compactuando para maquiar de legalidade o processo de deposição de
Dilma, enaltecendo a manifestação daqueles que querem a cabeça de Dilma e
omitindo ou minimizando manifestações contrárias, deixando de fazer reportagem
séria e comprometida quanto aos crimes atribuídos a políticos como Eduardo
Cunha, Aécio, Jucá e outros, deixando de trazer a público suspeita de
engavetamento de processos-crime pelo judiciário, em situação que traduz
completo desrespeito ao povo brasileiro e completo descompromisso com os
interesses maiores da nação.
Enquanto
o processo de Impeachment corria, a rede Globo alardeava novas acusações em
face de Lula. Para quê e porquê? A suspeita, a polêmica é um bom pretexto para
fazer apelo jornalístico, mas..., quem é que vai julgar? Quem vai julgar Cunha,
quem vai julgar Aécio, que vai julgar Jucá, Lula e todos os demais suspeitos de
corrupção que povoam nossas casas legislativas? Perguntando de outra forma: -
porque se levanta a lebre da suspeita de um suposto crime em rede nacional, sem
que tal tenha sido submetido ao crivo dos poderes constituídos, sem que existam
provas suficientes à condenação? Em nossa cultura da espetacularização
jornalística, a mídia torna o fato promíscuo, lança a suspeita e depois tudo
cai no esquecimento. A mídia levanta as lebres no momento que lhe soe oportuno
e conforme as razões do seu interesse em viralizar. Estes caprichos, sob a
falsa bandeira de trazer informações a público, se explicariam muito bem se
todas as intenções que tivessem por detrás viessem à tona. Em suma, em nossa cultura midiática de
utilizar o fato como joguete para interesses ocasionais e sub reptícios, qual é
maior prejudicado senão o interesse público? e não propriamente o eleitor de
fulano ou beltrano.
E
mais, esta cultura de levantar suspeitas que logo caem no esquecimento é muito
querida pelos criminosos de plantão, pois, convictos de que os processos
acusatórios são engavetados no momento oportuno. As acusações e suspeitas
somente tem servido como pretexto para as disputas políticas e como meio que os
criminosos se valem para desviar a atenção para outras bandas à guisa de
quererem se safar.
O
povo paga tributos e o Estado é organizado para fazer valer o Direito. Que o
Estado processe e julgue todos aqueles políticos que se apropriem do dinheiro
público. O povo tem direito a ver a lei ser efetivamente cumprida. Temos um
judiciário muito bem pago e que não está acima de ninguém, ao contrário, tem o
dever de aplicar a constituição e a lei sem nenhum casuísmo ou favoritismo.
Não
podemos deixar que a mídia nos faça de idiotas, nos induza a ser inquisitores e
senhores da bem e do mal, senhores da verdade. Com tal expediente a mídia
coloca uns contra os outros, vai ludibriando o povo, vai manobrando com a
intuição de perpetuar esta grande novela grotesca que é a vida pública
brasileira comandada por políticos corruptos e vaidosos, subservientes ao poder
econômico.
Nosso
povo tem direito a que as acusações sejam sérias, fundamentadas e que os
processos de apuração de crime sejam concluído em tempo hábil com lisura pelos
poderes constituídos, em especial, o poder Judiciário.
O
povo não deve e não precisa se engalfinhar e se debater uns com os outros para
provar à força quem é o bom e quem é o mal político. O povo tem o direito,
sim!, de protestar, de perseguir seus direitos, de valer-se de suas
prerrogativas cidadãs, de exigir que a ordem legal e constitucional seja
cumprida, de exigir dos poderes constituídos o cumprimento das leis. De exigir
que os criminosos sejam efetivamente julgados, mediante processo que garanta o
direito de defesa e que tramite de forma correta e célere, para que a Justiça
seja realizada efetivamente. O povo não merece ser manipulado por uma mídia,
agindo sob influxo de forças ocultas, mídia, esta, que vive de levantar
suspeitas, de enviar mensagens telegráficas sobre versões, utilizando tais
expedientes como meio de induzir comportamentos visando fins estratégicos,
induzindo a população a se antagonizar contra fulano ou beltrano, à guisa de
obter dividendos políticos.
O
povo tem sido constantemente vitimado por uma mídia e induzido a fazer justiça
com as mãos e, ingenuamente, acreditando ser protagonista da história.
Acorda
Brasil! Vamos focar. Vamos fazer valer nossa prerrogativa de exigir que a
Constituição e a Lei sejam cumpridos. Vamos exigir que o Estado trabalhe pela
erradicação de toda e qualquer ilegalidade, vamos cobrar mídia a serviço do
interesse público e gratuita. Não podemos transigir com qualquer tipo de
manipulação do povo.
Vamos
exigir que o voto seja respeitado e que os processos de impeachment não sejam
utilizados de forma arbitrária, pois, como disse atrás, a deposição de um
presidente, sem a ocorrência do pressuposto constitucional da existência de
crime de responsabilidade, importa gravíssimo ataque à Ordem Constitucional e
Republicana, constituindo, não mera afronta e este ou aquele presidente ou
partido, mas afronta contra todos, contra o Estado de Direito, tornando
qualquer poder vulnerável a toda sorte de interesses, no mais das vezes,
criminosos e contrários à moralidade e ao bem comum.
Somente
o povo unido, consciente dos seus direitos, pode mudar esta nação. Justiça para
ontem, hoje e sempre!
Vamos
exigir que o Judiciário pare de engavetar processos-crimes de políticos. Vamos
exigir que o judiciário processe e julgue tais crimes com rapidez. Vamos exigir
que o Senado e a Câmara dos Deputados cassem os políticos criminosos.
Acorda Brasil!
Acorda Brasil!