domingo, 15 de abril de 2012
Nada sobre o nada
Nada sobre nada
As regras são muito mutáveis, mesmo porque se inspiram no mundo e no mundo nada é igual ao igual. Aliás, o igual não existe. Logo, o princípio da identidade nasceu sem vida. Para exemplificar o que não digo, faço a seguinte citação do filósofo romano Auspícius:
Observe-se que várias evidências apontam para esta não evidência. Vejamos os exemplos: “Nada se cria, nada se perde. Tudo se Transforma. (Lavousier); A Santíssima Trindade é o pai, o filho e o espírito santo. Veja que a divindade precisa do número 3, que é bem curioso de sê-lo. É um número que tem uma certa singularidade (isto é, não é par), mas, seja como for, é um plural.
Considerações sobre o possível “nada”
Ante as considerações antes tecidas sobre a inexistência da identidade (por não existir termo de comparação), resta indagar se o nada seria uma unidade sui generis. Digo sui generis, porque seria uma unidade, mas insuscetível de comparação e ainda que suscetível de dimensionamento (por ex, ocupo o lugar do nada referente ao tamanho da minha pessoa), tal dimensionamento nunca lhe diria respeito, mas seria uma mera atribuição externa de outrem. Em outras palavras, afirmamos que o tamanho da nada é um mero capricho humano.
De se concluir que pouco importa se dizemos que o nada é ou não uma unidade, porque sendo nada mesmo, ele se presta a qualquer coisa que dele façamos, ou mesmo que deixemos de fazer ou que deveríamos fazer ou que não deveríamos ter feito ou isto ou aquilo.
Se o nada não é, isto exclui qualquer inspiração? Sempre somos prisioneiros do nada? Ou culpados porque, fazendo o nada parte da criação, temos culpa por usar e abusar do nada, como se fosse tempero para as nossas peripécias exóticas?
Este tema é muito espinhoso e delicado. Afinal, temos alguma culpa pela concepção? Perece ser mesmo um pecado tripudiar com o nada, pois que o sagrado evoca sempre um tudo. Falar de um nada é como falar da heresia de Deus. É bem certo, o espaço não-dimensional (ora denominado “nada”) é vital à vida, ao movimento, à existência. Nada seria possível se não existisse a liberdade que o nada propicia. A relação sexual é possível por conta desta liberdade, o caminhar e o respirar, igualmente. Enfim, todos os processos naturais, que carecem de movimento, deslocamento, espaço de mobilidade, são possíveis ante a existência do nada. Se o nada é absolutamente imprescindível à vida, podemos afirmar com segurança que lhe é um ingrediente necessário à concepção[1]. Não sei afirmar se é a própria concepção (isto é, algo que precedeu o tudo). Para poder afirmá-lo, somente sendo íntimo à concepção, somente participando de sua criação.
Seja como for, se o nada é singelo em sua imaterialidade, ao menos, resta uma possibilidade de participarmos da criação, pois que não exige grandes quantidades de cal e areia.
[1] A concepção possui início? A concepção é uma imposição? Na concepção há uma polarização entre concebedor e concebido ou, ao contrário, uma interação? Como é possível compatibilizar julgamento e movimento? O julgamento, para operar, congela a realidade. O julgamento é antítese do operar dinâmico, necessário à concepção.
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